terça-feira, março 24, 2009

Dia do Estudante


Marcado pela Assembleia da República em 1987, o dia do estudante, é vincadamente um dia de reivindicação dos estudantes. Para melhor compreendermos a data, temos de recuar na história e relembrar vários episódios associados às suas comemorações. Fui então buscar um excerto de um texto de Rui Grilo (artigo publicado no Jornal da Universidade de Évora n.º 8, Abril de 1999), que retrata muito bem, no meu entender, alguns dos principais momentos que levaram à celebração do dia do estudante:

«Em 1921 os estudantes da Universidade de Coimbra estavam em luta por melhores instalações. O espaço destinado à academia era muito reduzido, sobretudo quando comparado com as generosas acomodações dos professores. Estes tinham no Clube dos Lentes um símbolo do seu poder e da tradição universitária, pelo que os estudantes lhe chamavam "Bastilha". Demonstrando um espírito de união e solidariedade sem precedentes, os estudantes ocuparam o Clube dos Lentes no dia 25 de Novembro desse ano, marcando o seu protesto. Esse dia passou a ser conhecido como a "Tomada da Bastilha" e os seus aniversários comemorados como Dia do Estudante.

Foi assim até 1961. Nesse ano, como era hábito, as comemorações do 25 de Novembro reuniram em Coimbra estudantes de todo o País. Mais de duzentos participaram num jantar, durante o qual a frase "Queremos paz!" ecoou em protesto contra a Guerra Colonial, inspirando um animado cortejo pela cidade. A polícia apareceu e vários estudantes foram presos, o que suscitou uma vaga de apoio e indignação em todo o país. A tensão era visível nas academias do Porto e de Lisboa e marcou a inauguração da nova Reitoria na Cidade Universitária.

Foi neste clima que, já em 1962, se realizaram vários encontros de dirigentes associativos que deram origem a um Secretariado Nacional de Estudantes Portugueses e à realização, em Coimbra, do primeiro Encontro Nacional de Estudantes, ignorando a proibição que o Governo tinha decretado. Essa rebeldia foi paga pelos membros da direcção da Associação Académica, com a instauração de processos disciplinares e a correspondente suspensão. Os estudantes de Coimbra responderam com o luto académico e a greve às aulas.

Em Lisboa, as associações de estudantes pretendiam comemorar o Dia do Estudante no final de Março. E, mesmo sem autorização do Ministério da Educação Nacional, as comemorações iniciaram-se a 24 de Março de 1962. O regime respondeu com a sua brutalidade habitual. A cantina foi encerrada e a Cidade Universitária invadida pela polícia de choque, ignorando a autonomia universitária. Estudantes foram espancados e presos, desencadeando uma reacção de repúdio que levou a que fosse decretado o luto académico e a greve às aulas.»

O Dia do estudante marca a vontade de mudar o mundo de cada geração, assinala grandes alterações e conquistas por muitas gerações de estudantes que na sua altura conseguiram impor a sua visão e a sua marca. Numa altura em que a desunião, o desinteresse e a falta de entusiasmo se alastram pelo ensino superior acho que vale a pena pelo menos aproveitar esta data para reflectirmos um pouco acerca da nossa conduta.

André Dias

Saudações Académicas

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