O presidente do Governo Regional do Príncipe José Cassandra (São Tomé e Príncipe) esteve na passada segunda-feira dia 23 na Universidade do Algarve, para uma reunião de trabalho.
A reunião, que decorreu num positivo espírito de vontade mútua de colaboração, contou com a presença da vice-reitora Fernanda Matias, bem como de Nuno Loureiro, da FCT, e de Francisco Calhau, da EST.
O presidente José Cassandra vinha acompanhado pelo cônsul honorário de São Tomé e Príncipe em Portugal, António Schnheider da Silva, e por João Vargues, da Câmara Municipal de Faro.
Houve ainda a oportunidade de debater o início do Programa SADA, agendado já para Maio próximo, e uma futura legislação regional de protecção das tartarugas marinhas.
O Programa SADA tem como objectivo-chave salvar da extinção a população já muito fragilizada de tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), localmente conhecida como SADA, nidificante na ilha do Príncipe.
Esta espécie está “Criticamente Ameaçada de Extinção” a nível mundial (IUCN Red List 2008). As principais populações nidificantes estão concentradas na América Central (onde a espécie está a recuperar, depois da adopção de bem sucedidas medidas de protecção).
Na costa ocidental de África, as ilhas do Golfo da Guiné (Bioko, Príncipe, São Tomé e Ano Bom) são o único local de nidificação, sendo particularmente relevantes o Príncipe e o sul de S. Tomé.
O cariz de excepção faz com que esta população, geneticamente distinta de todas as outras, seja um valor reconhecidamente interessante para a biodiversidade do Planeta.
Segundo o SWOT Report III, na ilha de Bioko, na época de posturas de 2005-06, foram registadas apenas duas posturas. No Príncipe 36 e em São Tomé 38. A época de posturas estende-se de Outubro a Abril, sendo Dezembro e Janeiro o período principal.
«O Programa SADA é necessário, urgente e oportuno. Justifica-se a necessidade porque sem o seu lançamento será quase impossível assegurar o futuro da espécie na região. A urgência encontra fundamento na dimensão actual da população nidificante, nas praias do Príncipe, já muito depauperada, com indícios de se aproximar do limite de viabilidade demográfica e ecológica», pode ler-se no blogue do programa.
«A oportunidade é inegável, já que se trata da resposta lógica à firme intenção, expressa pelo Governo Autónomo do Príncipe, de em breve aprovar legislação que proíba a captura, posse, transporte, comercialização e consumo de tartarugas marinhas, vivas ou mortas, inteiras ou em partes, e dos seus ovos», salientam ainda os responsáveis pelo programa.
São quatro os eixos em que assenta o Programa SADA:
1. INFRA-ESTRUTURAS DE ECOTURISMO E APOIO
Centro de Acolhimento de Santo António do Príncipe - um pequeno espaço com uma exposição, um centro de recepção a visitantes, apoio de secretariado, apoio à investigação e sala polivalente
Centro de Acolhimento da Praia Grande - recuperação das instalações existentes e criação de condições para o alojamento ocasional de visitantes, investigadores e vigilantes
Centro de Acolhimento da Praia Sundy - características semelhantes ao da Praia Grande
2. FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
formação para pescadores, mergulhadores, palaiês e candongueiros, para explicar a necessidade da proibição de captura de tartarugas marinhas, com especial atenção para a SADA
formação para polícias, militares, elementos da justiça, fiscais municipais e outras autoridades, para explicar a necessidade da proibição de captura de tartarugas marinhas, a legislação em vigor e as formas de actuar, para prevenir ou punir eventuais ilícitos
educação ambiental para a população escolar da ilha, abarcando professores e alunos, por forma a conseguir gradualmente uma sensibilização generalizada da população
3. INVESTIGAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO
avaliação do número actual de fêmeas reprodutoras de SADA que utilizam as praias do Príncipe para fazer posturas
caracterização genética da linhagem matriarcal dessa população
caracterização das rotas migratórias seguidas por fêmeas reprodutoras de SADA e, eventualmente, por machos e imaturos da mesma espécie
4. APOIOS AOS PESCADORES E MERGULHADORES
identificação das estratégias mais adequadas para minimizar, de forma indirecta, as perdas de rendimentos dos pescadores e mergulhadores que se dedicavam à captura e comercialização de tartarugas marinhas, facilitando novas fontes de receita
Saudações Académicas.
24 de Março de 2009 | 10:32 B.O.