quinta-feira, julho 23, 2009

Ensino superior e empregabilidade


Desde há vários anos que o ensino superior tem vindo a ser regulado pelas leis do mercado. As universidades são financiadas pelo número de alunos que frequentam os seus cursos.

Assim, com as dificuldades financeiras das instituições, cresceu a importância de conquistar novos alunos.

Por isso, são tentadas a abrir mais vagas nos cursos que os candidatos a alunos mais procuram. Para abrir mais vagas nesses cursos vão sendo diminuídas as vagas nos cursos com menor procura.

Assim, há uma tendência para haver um ajuste entre a oferta e a procura. Nos cursos com maior procura vai aumentando o número de vagas e vai crescendo o número de alunos.

Nos cursos com menor procura, vão diminuindo as vagas e diminuindo o número de alunos. Instituições, alunos e pais ficam satisfeitos.

Mas será que esse sistema de mercado no ensino superior serve o país e ajuda os alunos, uma vez terminada a sua formação, a encontrar um emprego na área em que se formaram?

São muitas e complexas as motivações que fazem com que um aluno opte por este ou aquele curso. O contacto com profissionais de uma determinada área faz com que se pondere a possibilidade de vir a ter essa profissão.

É o caso da profissão de professor. Por outro lado, há profissionais que têm enorme visibilidade na sociedade (jornalistas, advogados, médicos, sociólogos, economistas, etc.).

Também é compreensível que muitos dos futuros alunos universitários vejam o ensino superior como um meio de chegar a uma dessas profissões.

É menos provável que os candidatos ao ensino superior optem por escolher profissões com menor visibilidade.

Claro que existem ainda outros factores que influenciam a escolha dos alunos: conhecimento directo de determinadas profissões na família ou fora dela, amigos que frequentam determinado curso, etc.

A questão que se coloca é: será que os cursos mais mediáticos garantem uma elevada empregabilidade? Em alguns casos, sim. Noutros, claramente, não.

Até porque, de acordo com as tais leis do mercado, se aumenta a procura, aumentam as vagas, aumenta o número de alunos e ao final de poucos anos aumenta o número de profissionais nessa área.

O que não segue a mesma lógica é o número de postos de trabalho. Esse pode aumentar ou diminuir mas não depende do número de profissionais formados. Portanto, é natural que nessas áreas se dê uma saturação do mercado de trabalho.

O contrário também acontece. Há profissões que perderam visibilidade. Isso leva a que haja menos candidatos, menos vagas, menos alunos e menos licenciados.

O pior é que isso pode acontecer em profissões que garantem empregabilidade e que fazem falta ao país e ao mundo. Em alguns casos, o número de novos licenciados não é suficiente para substituir aqueles que se vão reformando.

Muitas vezes fala-se do elevado número de desempregados com formação superior. Não é de estranhar que isso aconteça, se tivermos em consideração o que acima se refere.

O que haveria que saber era que licenciaturas e que mestrados fizeram os tais desempregados de grau superior. Certamente que há casos de desempregados nas diversas profissões.

Mas também é verdade que a percentagem de desempregados é muito mais elevada numas profissões que noutras. Porém essa informação tem sido pouco divulgada. Tê-la seria um importante factor na escolha que muitos têm que fazer nestes dias.

A Agronomia é uma das áreas em que tem havido diminuição do número de vagas e de candidatos e em que existe uma elevada empregabilidade.


*Agrónomo, Docente da Universidade do Algarve – FCT, aduarte@ualg.pt


Saudações Académicas.


Fonte: B.O.

Sem comentários:

Enviar um comentário